Encontrei um artigo no Público que reflecte duas formas diferentes de viver o mundial, não só da parte dos adeptos, mas também a nível institucional, comunicação social, etc.
Rita Siza confronta a realidade quotidiana de Washington com a lisboeta durante esta época da febre do mundial. Febre no nosso país, mas será que nos EUA a forma como se vive o mundial, não será uma espécie de terapia?
A crónica de Rita Siza:
Washington.
"It's all about the game"
Quando os jogos de futebol acabam, em Washington DC, as pessoas pagam a conta e vão às suas vidas. Os bares, sempre cheios, esvaziam-se ao mesmo ritmo dos estádios da Alemanha de onde chega a transmissão televisiva.
A multidão que momentos antes agitara bandeiras e cachecóis, berrara e cantara, sofrera e rejubilara, aplaudira, esbracejara e se abraçara, distribui civilizadamente os últimos sorrisos e cumprimentos e com calma volta a enfrentar o mundo - ao chegar à rua, o efeito do sol e do calor que agarra a roupa ao corpo só vem confirmar a dimensão material e física dessa transição que por segundos só se processa a nível intelectual.
Aqui não há entrevistas de fim de jogo, nem análises, nem comentários repetidos até à exaustão. As televisões não dedicam mais do que dois minutos de noticiário ao mundial, e são sempre peças sóbrias. Os únicos anúncios que vi foram aqueles fantásticos da Adidas, com os dois miúdos a jogar à bola com o Platini e o Beckenbauer, e mesmo esses só passam no intervalo dos jogos. O trânsito não para, nem os automobilistas apitam; as ruas não se enchem nem se esvaziam.
Nenhuma praça tem écrãs gigantes ou bancadas. As lojas prosseguem o seu comércio normal, não há ofertas, bónus, ou quinquilharias desnecessárias coladas aos pacotes de mercearia. As bandeiras penduradas nos edíficios são as mesmas de sempre-as das centenas de embaixadas e dezenas e dezenas de departamentos do governo federal.
Mas não me venham com o argumento que isso é porque na América ninguém liga nada ao futebol. Nesta cidade, onde vem parar gente de todo o mundo (literalmente), ninguém não liga a nada, ninguém não tem uma equipa, ninguém não quer ver os jogos. Quaisquer que eles sejam, os nossos e os dos outros, os bons e os maus, vê-se tudo com fervor e até ao fim. Aqui, o Mundial é uma festa, ninguém lhe é indiferente. Simplesmente ninguém faz do Mundial o único assunto do dia, ninguém pensa que não há mais vida para além do futebol. E talvez por isso, porque não temos todos que levar com o Mundial em todo o lugar a toda a hora, aproveitamos.
Porque há muito dia antes e sobretudo muito mais dia depois do jogo, aproveitamos. Naqueles 90 minutos, ou 120 minutos, ou em todos os outros minutos que vierem a mais, "it's all about the game". Aproveitamos os passes, os dribles, as defesas, os pontapés, os lançamentos, os cantos, as faltas, as fintas, os golos. Aproveitamos o futebol, sem peder tempo nem energia com mais nada. Sem fanatismo, sem exageros.
Aproveitamos a festa, o encontro, este encantador convívio com outras pessoas que também por algum tempo suspenderam a sua vida por causa deste jogo tão emocionante e imprevisível.
Somos sempre por alguém: por quem ganha, por quem joga melhor, por quem está na mó de baixo; por quem dá espectáculo, por quem surpreende, por quem fala a nossa língua, por quem defronta os que não gostamos.
Eu, neste instantinho, já fui pela República Checa, pela Austrália, pela Costa do Marfim, pela Suécia, por Trinidad e Tobago, pela Argentina, pela França, pelo Gana, pelo Brasil... Somos sempre pelos golos.
O que descubro com grande surpresa, nesta terra habituada a touch downs e home runs, é um renovado prazer de gritar golo. E assim vou gritando golo, nessa explosão maior do futebol, de braços no ar, cada vez mais cheia de alegria. Porque sei que ainda há muitos jogos. Quando acabarem fecho a conta e vou à minha vida.
Rita Siza, jornal Público (26/06/06).
Rita Siza confronta a realidade quotidiana de Washington com a lisboeta durante esta época da febre do mundial. Febre no nosso país, mas será que nos EUA a forma como se vive o mundial, não será uma espécie de terapia?
A crónica de Rita Siza:
Washington.
"It's all about the game"
Quando os jogos de futebol acabam, em Washington DC, as pessoas pagam a conta e vão às suas vidas. Os bares, sempre cheios, esvaziam-se ao mesmo ritmo dos estádios da Alemanha de onde chega a transmissão televisiva.
A multidão que momentos antes agitara bandeiras e cachecóis, berrara e cantara, sofrera e rejubilara, aplaudira, esbracejara e se abraçara, distribui civilizadamente os últimos sorrisos e cumprimentos e com calma volta a enfrentar o mundo - ao chegar à rua, o efeito do sol e do calor que agarra a roupa ao corpo só vem confirmar a dimensão material e física dessa transição que por segundos só se processa a nível intelectual.
Aqui não há entrevistas de fim de jogo, nem análises, nem comentários repetidos até à exaustão. As televisões não dedicam mais do que dois minutos de noticiário ao mundial, e são sempre peças sóbrias. Os únicos anúncios que vi foram aqueles fantásticos da Adidas, com os dois miúdos a jogar à bola com o Platini e o Beckenbauer, e mesmo esses só passam no intervalo dos jogos. O trânsito não para, nem os automobilistas apitam; as ruas não se enchem nem se esvaziam.
Nenhuma praça tem écrãs gigantes ou bancadas. As lojas prosseguem o seu comércio normal, não há ofertas, bónus, ou quinquilharias desnecessárias coladas aos pacotes de mercearia. As bandeiras penduradas nos edíficios são as mesmas de sempre-as das centenas de embaixadas e dezenas e dezenas de departamentos do governo federal.
Mas não me venham com o argumento que isso é porque na América ninguém liga nada ao futebol. Nesta cidade, onde vem parar gente de todo o mundo (literalmente), ninguém não liga a nada, ninguém não tem uma equipa, ninguém não quer ver os jogos. Quaisquer que eles sejam, os nossos e os dos outros, os bons e os maus, vê-se tudo com fervor e até ao fim. Aqui, o Mundial é uma festa, ninguém lhe é indiferente. Simplesmente ninguém faz do Mundial o único assunto do dia, ninguém pensa que não há mais vida para além do futebol. E talvez por isso, porque não temos todos que levar com o Mundial em todo o lugar a toda a hora, aproveitamos.
Porque há muito dia antes e sobretudo muito mais dia depois do jogo, aproveitamos. Naqueles 90 minutos, ou 120 minutos, ou em todos os outros minutos que vierem a mais, "it's all about the game". Aproveitamos os passes, os dribles, as defesas, os pontapés, os lançamentos, os cantos, as faltas, as fintas, os golos. Aproveitamos o futebol, sem peder tempo nem energia com mais nada. Sem fanatismo, sem exageros.
Aproveitamos a festa, o encontro, este encantador convívio com outras pessoas que também por algum tempo suspenderam a sua vida por causa deste jogo tão emocionante e imprevisível.
Somos sempre por alguém: por quem ganha, por quem joga melhor, por quem está na mó de baixo; por quem dá espectáculo, por quem surpreende, por quem fala a nossa língua, por quem defronta os que não gostamos.
Eu, neste instantinho, já fui pela República Checa, pela Austrália, pela Costa do Marfim, pela Suécia, por Trinidad e Tobago, pela Argentina, pela França, pelo Gana, pelo Brasil... Somos sempre pelos golos.
O que descubro com grande surpresa, nesta terra habituada a touch downs e home runs, é um renovado prazer de gritar golo. E assim vou gritando golo, nessa explosão maior do futebol, de braços no ar, cada vez mais cheia de alegria. Porque sei que ainda há muitos jogos. Quando acabarem fecho a conta e vou à minha vida.
Rita Siza, jornal Público (26/06/06).
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ResponderEliminarOlá
ResponderEliminarComentários deste tipo não merecem comentários... no entanto queria partilhar 3 coisas:
- é triste alguém esconder-se por detrás deste username para fazer comentários deste tipo. Espero que um dia haja coragem por essas bandas para pôr o seu nome verdadeiro.
- Nunca ataquei ninguem a nível pessoal, sempre pensei que o debate ideológico fosse importante entre os alunos da faculdade e em especial dos nossos cursos (RI e CP).
- Vou certamente trabalhar enquanto membro do CEPRI para que possa existir maior coesão entre os alunos do nosso curso, não deixando que as divergências ideológicas se intreponham nas relações pessoais, mas acho que à partida qualquer homo sapiens consegue perceber essa diferença.
cumprimentos