quinta-feira, fevereiro 08, 2007

O REINO DA HIPOCRISIA

As aparências são tudo! Tal se aplica em Portugal onde reina a hipocrisia.

A nossa sociedade é o reflexo do estado da nossa civilização. Uma civilização, onde predomina a dupla personalidade, pois só assim se pode justificar os acontecimentos actuais.

De acordo com o dicionário, a palavra hipocrisia deriva do “grego “Hipokrités”, fingimento de boas qualidades para ocultar os defeitos; falsidade; dissimulação.”
Este é o retrato da nossa sociedade. Onde os indivíduos para manterem as aparências defendem e comportam-se de um determinado modo, que consideram ser a boa moral e os bons costumes. Ser a maneira correcta como se deve conviver em sociedade, defendo a dita moral e os bons costumes como se fosse um dogma.

Mas em privado, cai o Santo e a Trindade. Verifica-se que as suas boas maneiras, a sua moral, as suas qualidades estão assentes em falsidades, ou seja, as suas bases não tem suporte de apoio. Pois em privado já não se aplicam, pois o que interessa são as aparências.

Dai que a nossa sociedade, é caracterizada pela dupla personalidade dos seus indivíduos.

Se queremos ser credíveis, temos que ter o mesmo comportamento que temos em publico e em privado. Pois se não, não deixaremos de ser indivíduos arrogantes, que temos o sentimento de ser superiores aos outros e mania da razão.

Cada individuo tem o direito de ter a convicção de ser convencido, de ter a mania que é superior aos outros, de ter a mania que tem valores e uma moral superior aos dos outros e de ter a mania da razão. Mas desde tenham essas qualidades e tenham o mesmo actos quer em publico quer em privado, pois se assim não for não deixa de ser um falso, um hipócrita, um pudico.

Ou seja temos indivíduos que se auto intitulam de civilizados, de detentores e defensores da boa moral e bons costumes, que consideram repugnante perante a ideia do assassínio, do incesto, do aborto, de mentir, de copiar, de fingir as suas qualidades. Mas adoram satisfazer a sua cobiça, ambição, a sua agressividade, as suas cobiças sexuais, que não hesitam em prejudicar os seus semelhantes por meio da mentira, do engano, da calunia, contanto que o possam fazer com impunidade, contudo vivendo sempre com o medo que alguém descubra que as suas qualidades são falsas e que vivem numa mentira.

Este é a caracterização possível da nossa sociedade, já acreditava que a nossa sociedade era assim mas a minha opinião tem sido reforçada e acentuada desde que começou o debate sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez.

Onde o que esta em causa é o tipo de sociedade que queremos e não as nossas convicções morais, politicas, religiosas e éticas.
O que esta em causa não é o direito a vida, é o direito a liberdade.
Liberdade de sermos o que somos, liberdade de escolha se queremos ter filhos ou não, liberdade de fazer o que queremos com o nosso corpo, liberdade de termos as nossas convicções religiosas politicas e religiosas, liberdade de dois homens ou duas mulheres se casarem, liberdade da pratica de eutanásia.
E por favor deixem de demagogias, do tipo de dizerem que qualquer dia só falta casarem-se homens com cães e mulheres com gatos. É necessário respeitarmos as convicções e os valores uns dos outros, ou seja é necessário chegar a um compromisso.

E tal respeito aplica-se ao debate actual sobre o aborto, chegou-se ao compromisso, de que se considera que ate as 10 semanas de gravidez, o período aceitável para se poder interromper a gravidez, de acordo com a actual lei. Ao contrário de outros países ocidentais, que vão ate as 24 semanas de gravidez, dependendo de Estado para Estado.
Não vou aqui numerar todos os argumentos que os defensores do Sim e do Não já debateram.

Contudo este debate revela a hipocrisia que a nossa sociedade chegou. Onde os defensores do Não são contra que as mulheres sejam criminalizadas e levadas a julgamento, mas já não se chocam com as condições deploráveis que uma mulher tem que suportar ao fazer um aborto clandestino.
Já não se chocam se uma mulher morrer por fazer um aborto.
Já não se chocam se uma mulher sofrer danos irreparáveis para o resto da sua vida, onde nunca mais pode ter filhos.
Já não se chocam com os danos irreparáveis psicológicos que uma mulher sofre, quer por ter ser obrigada devidas as suas condições de vida por não poder ter um filho e ter que ser obrigada a fazer um aborto.
Já não se chocam com o sofrimento psicológico que uma mulher sofre ao ter que ir para a clandestinidade, de não ter um acompanhamento médico, de andar viver num clima de medo de que alguém descubra e seja perseguida pelas autoridades.
Já não se chocam com uso dos nossos impostos sejam usados, para pagar as contas dos hospitais das mulheres que chegam as portas da morte por ter feito um aborto clandestino.
E já não se chocam que os nossos impostos sejam usados para perseguir mulheres e para julga-las mesmo que no fim de o julgamento as mulheres sejam absolvidas.

E por ultimo já não se chocam em ser hipócritas, onde se tivessem nas mesmas condições de vida que muitas mulheres vivem, não se chocavam em ir com as suas filhas a Espanha ou outro país verdadeiramente civilizado, para poderem interromper voluntariamente a gravidez de suas filhas.

Se queremos ser a favor da vida, temos que lutar por isso, temos que lutar para criar condições para que mulheres e casais possam ter aquilo que mais desejam, ter um filho. É preciso lutar por uma verdadeira politica de família, como esta acontecer na Alemanha onde as mulheres para poderem beneficiar dos novos benefícios faziam tudo e mais alguma coisa para poderem adiar o nascimento dos seus filhos. É preciso lutar por uma verdadeira educação sexual nas escolas, pois é de novo que se aprende e não depois dos erros serem cometidos.

A nossa sociedade tem problemas sérios, e são precisos Homens e Mulheres sérios para os resolver, Homens e Mulheres com carácter e com verdadeiras qualidades. Onde critiquem a sociedade, no sentido de provocar uma mudança de mentalidades. E sem uma mudança de mentalidades é impossível lutar contra o sistema vigente. Onde Reina a Hipocrisia, a nível social, politico e religioso.

Pois se não, tal como Sigmund Freud disse: “Existe infinitamente mais homens que aceitam a civilização como hipócrita do que Homens e Mulheres verdadeiramente civilizados.”

E este tipo de sociedade não nos trás honra e orgulho nenhum!

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