quarta-feira, abril 12, 2006

Berlusconi e Portugal

Sem um poder central europeu e que vá a votos com regularidade a Europa do euro está condenada a transformar-se num cemitério de governos nacionais. Apesar do suspense das sondagens à boca das urnas, e dos eventuais pedidos de recontagem, à hora que escrevo este texto parece claro que Romano Prodi venceu Berlusconi nas eleições italianas. O resultado em si não é surpreendente. Não tem acontecido outra coisa na Europa desde que o euro entrou em vigor. Governos atrás de governos são derrotados nas urnas. Foi assim em Espanha com o PP (apesar dos atentados de 11 de Março), foi assim em Portugal, com a coligação PSD-PP; foi assim na Alemanha, com Merkel a derrotar Schröeder. Se olharmos pelo mapa da Europa, com uma ou outra excepção, encontramos uma tendência: desde que o euro entrou em vigor, as dificuldades de um governo ganhar um segundo mandato aumentaram imenso, tornando quase impossível a tarefa.


Berlusconi foi mais um numa lista que ameaça crescer em cada ano que passa. É óbvio que, tanto a esquerda que o derrotou nas urnas, como a “inteligencia” europeia, preferem pensar que esta derrota não é mais que o justo castigo para um político espalhafatoso, desbocado, suspeito de ilegalidades várias e pouco credível. É certo que a personalidade da criatura suscita paixões e ódios, mas não invalida o essencial, e o essencial é que a Itália, como os outros países do euro, ficou tremendamente condicionada nas suas capacidades, e o resultado é uma economia apática, em perda, e um povo inseguro e descrente no futuro.

Quando desenharam e implementaram o euro, a maior parte dos políticos europeus não teve certamente a consciência de que estava a colocar a cabeça no cepo. Ao transferirem poderes para o Banco Central Europeu e para outros órgãos comunitários, os políticos nacionais perdiam algumas das mais poderosas armas políticas ao seu dispor. Perdiam a possibilidade de emitir moeda, a possibilidade de fazer variar a taxa de juro, a possibilidade de desvalorizarem a sua moeda, a possibilidade de emitirem dívida pública, e a possibilidade de terem deficits orçamentais elevados. De uma assentada, entregavam as metralhadoras, os rockets, as pistolas e as balas de toda a sua parafernália de poderes económicos. Na prática, perdiam muito poder, ficando limitados na sua actuação à política fiscal. Porém, entregaram os poderes mas não entregaram as responsabilidades. Aos olhos dos cidadãos de cada país, não passou a existir um poder central europeu que pudesse ser responsabilizado pelos males da economia, e a culpa de todos os males continuou a ser imputada aos governos nacionais. Estes, atarantados, apertados pelo torniquete das regras do euro, passaram a vítimas frágeis das crises económicas. A crise aperta, Bruxelas não deixa, vai-se a votos e cai o Governo. O filme passa em muitos cinemas europeus e o fim é sempre o mesmo, como agora se viu em Itália.

Até porque, como em Portugal, em Itália a economia foi habituada a trinta anos de desvalorização da moeda, para poder competir. O choque com um euro forte é devastador, e lá como cá, os governos tentam, mas os resultados são desastrosos, e perdem as eleições. José Sócrates devia reflectir nisto. Por mais que “as expectativas” tenham mudado em Portugal, por mais “choques tecnológicos” que se administrem aos indígenas, a verdade é que a economia real sofre com o euro e vai demorar décadas até se adaptar e transformar. Não se muda um país em cinco anos. É muito mais fácil mudar de governo, e atirar borda fora aqueles que o povo considera responsáveis pela crise que sente no bolso.

Os europeus quiseram uma Europa próspera, mas começaram pela economia, esquecendo a política. Sem um poder central europeu legítimo aos olhos do cidadão, e que vá a votos com regularidade, a Europa do euro está condenada a transformar-se num cemitério de governos nacionais, e a prazo arrisca-se à paralisia. A derrota de Berlusconi não foi apenas a derrota merecida de um político carnavalesco, mas também a confirmação de que os governos europeus estão metidos numa armadilha diabólica.

Domingos Amaral, Director da revista Maxmen, para o DE

5 comentários:

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