terça-feira, abril 25, 2006

Qual cravo?


Cavaco fez o seu primeiro discurso de 25 de Abril como Presidente da República. Fez bem em não ter cedido ao gesto fácil de levar um cravo na lapela (porque nunca o usou na vida). E fez bem em fazer um discurso que passou ao lado da pressão da agenda política, trazendo de volta à “espuma dos dias” o tema da exclusão social.

Com este discurso vamos assistir, seguramente, a muitas discussões sobre a “verdadeira natureza” de Cavaco Silva. Será que ele, afinal, é de esquerda? Ou é, antes, um político liberal que tenta disfarçar de quando em vez? Não será, pelo contrário, um verdadeiro democrata-cristão, conservador nos fundamentos, liberal no mercado mas esquerdista pelo lado cristão?

Enfim, Cavaco dá para horas de discussão. Mas a verdade é que ele não é um político com uma matriz muito clara, com tudo o que isso tem de bom e de mau. E o que tem de bom é, seguramente, a capacidade de surpreender. Foi o que fez hoje. Estava tudo (?) à espera de um raspanete aos deputados faltosos e estávamos todos (?) à espera de um sério aviso à execução orçamental do governo, na senda dos três tiros do FMI, OCDE e Banco de Portugal. Mas não, Cavaco optou por surpreender e dedicar o seu discurso à exclusão social, propondo um pacto para resolver ou atenuar um dos mais sérios e estruturais problemas do País.

Foi uma verdadeira surpresa, num excelente discurso, feito sem cravo à lapela. É claro que dá para perguntar porque é que só agora é que Cavaco Silva se lembrou de fazer este discurso. Mas dá, sobretudo, para perceber quão ridícula é a polémica do cravo: Cavaco podia ter posto um à lapela e fazer um discurso neo-conservador. Felizmente não cedeu. Agora resta-lhe ser consequente.

Ricardo Costa
Director-Adjunto de Informação da SIC

quinta-feira, abril 20, 2006

Universidade Lusíada de Lisboa no World MUN 2006

De regresso da China, a Universidade Lusíada de Lisboa registrou novamente uma excelente participação na edição deste ano do Harvard World MUN, com a atribuição de um Diplomacy Award, conseguido por Diogo Noivo, estudante finalista de Ciência Política, que representou a Argentina no Comité de Desarmamento e Segurança Internacional. Este é a primeira vez que um estudante português consegue um prémio neste evento.

O intercâmbio cultural e académico ao longo dos cinco dias que durou o evento foi impressionante e constituiu uma fonte de experiências que dificilmente se podem esquecer. Mas não só a parte de trabalho foi importante, as visitas turísticas e as festas foram igualmente (ou ainda mais) apreciadas.

A participação dos nossos alunos foi excelente, pois conseguiram integrar, nas resoluções finais de todos os comités, as propostas por eles defendidas.

O elevado número de delegados portugueses presentes no evento permitiu uma ampla divulgação da nossa Universidade e do país em geral.

Os óptimos resultados obtidos este ano, que consolidam os passos dados nos três anos anteriores, são um forte incentivo para que o CEPRI organize uma nova participação da nossa Universidade no World MUN 2007.

quarta-feira, abril 12, 2006

Berlusconi e Portugal

Sem um poder central europeu e que vá a votos com regularidade a Europa do euro está condenada a transformar-se num cemitério de governos nacionais. Apesar do suspense das sondagens à boca das urnas, e dos eventuais pedidos de recontagem, à hora que escrevo este texto parece claro que Romano Prodi venceu Berlusconi nas eleições italianas. O resultado em si não é surpreendente. Não tem acontecido outra coisa na Europa desde que o euro entrou em vigor. Governos atrás de governos são derrotados nas urnas. Foi assim em Espanha com o PP (apesar dos atentados de 11 de Março), foi assim em Portugal, com a coligação PSD-PP; foi assim na Alemanha, com Merkel a derrotar Schröeder. Se olharmos pelo mapa da Europa, com uma ou outra excepção, encontramos uma tendência: desde que o euro entrou em vigor, as dificuldades de um governo ganhar um segundo mandato aumentaram imenso, tornando quase impossível a tarefa.


Berlusconi foi mais um numa lista que ameaça crescer em cada ano que passa. É óbvio que, tanto a esquerda que o derrotou nas urnas, como a “inteligencia” europeia, preferem pensar que esta derrota não é mais que o justo castigo para um político espalhafatoso, desbocado, suspeito de ilegalidades várias e pouco credível. É certo que a personalidade da criatura suscita paixões e ódios, mas não invalida o essencial, e o essencial é que a Itália, como os outros países do euro, ficou tremendamente condicionada nas suas capacidades, e o resultado é uma economia apática, em perda, e um povo inseguro e descrente no futuro.

Quando desenharam e implementaram o euro, a maior parte dos políticos europeus não teve certamente a consciência de que estava a colocar a cabeça no cepo. Ao transferirem poderes para o Banco Central Europeu e para outros órgãos comunitários, os políticos nacionais perdiam algumas das mais poderosas armas políticas ao seu dispor. Perdiam a possibilidade de emitir moeda, a possibilidade de fazer variar a taxa de juro, a possibilidade de desvalorizarem a sua moeda, a possibilidade de emitirem dívida pública, e a possibilidade de terem deficits orçamentais elevados. De uma assentada, entregavam as metralhadoras, os rockets, as pistolas e as balas de toda a sua parafernália de poderes económicos. Na prática, perdiam muito poder, ficando limitados na sua actuação à política fiscal. Porém, entregaram os poderes mas não entregaram as responsabilidades. Aos olhos dos cidadãos de cada país, não passou a existir um poder central europeu que pudesse ser responsabilizado pelos males da economia, e a culpa de todos os males continuou a ser imputada aos governos nacionais. Estes, atarantados, apertados pelo torniquete das regras do euro, passaram a vítimas frágeis das crises económicas. A crise aperta, Bruxelas não deixa, vai-se a votos e cai o Governo. O filme passa em muitos cinemas europeus e o fim é sempre o mesmo, como agora se viu em Itália.

Até porque, como em Portugal, em Itália a economia foi habituada a trinta anos de desvalorização da moeda, para poder competir. O choque com um euro forte é devastador, e lá como cá, os governos tentam, mas os resultados são desastrosos, e perdem as eleições. José Sócrates devia reflectir nisto. Por mais que “as expectativas” tenham mudado em Portugal, por mais “choques tecnológicos” que se administrem aos indígenas, a verdade é que a economia real sofre com o euro e vai demorar décadas até se adaptar e transformar. Não se muda um país em cinco anos. É muito mais fácil mudar de governo, e atirar borda fora aqueles que o povo considera responsáveis pela crise que sente no bolso.

Os europeus quiseram uma Europa próspera, mas começaram pela economia, esquecendo a política. Sem um poder central europeu legítimo aos olhos do cidadão, e que vá a votos com regularidade, a Europa do euro está condenada a transformar-se num cemitério de governos nacionais, e a prazo arrisca-se à paralisia. A derrota de Berlusconi não foi apenas a derrota merecida de um político carnavalesco, mas também a confirmação de que os governos europeus estão metidos numa armadilha diabólica.

Domingos Amaral, Director da revista Maxmen, para o DE

Será a República uma Monarquia?

Ocorreu-me esta pergunta há um mês, quando assisti à gigantesca e encenada operação de tomada de posse do Presidente da República (escusam de me entupir a caixa de correio com mails a explicar as diferenças entre Monarquia e República - a pergunta é retórica e tem um ponto de vista puramente simbólico). Na verdade, a tomada de posse de Cavaco Silva esteve mais próxima da coroação de um rei do que de um acto formal, absolutamente corriqueiro em democracia. Tratava-se de uma posse curricular - mas a própria cobertura televisiva a transformou numa gala real.

Aqui há dias, ao ver o Presidente e a mulher no Hospital da Estefânia, trocando palavras de circunstância com doentes e profissionais de saúde, revi a Princesa Diana nos inúmeros hospitais por onde espalhou o seu sorriso. Numa revista social vejo Maria Cavaco Silva no Palácio de Belém rodeada pelos seus alunos da Universidade Católica e as imagens não são diferentes daquelas que mostram regularmente reis, rainhas e princesas de toda a Europa.

Ou seja, nos três momentos que observei o que releva das imagens é exactamente uma aproximação aos modelos, modos de estar e posturas que as monarquias europeias têm vindo a adoptar.

Já se sentia essa carga com Mário Soares e depois com Jorge Sampaio, mas em ambos os casos era óbvio algum amadorismo na forma de lidar com as novas realidades mediáticas. Agora, com o novo Presidente, profissionaliza-se a atitude e parece que fica definida, de uma vez por todas, a carga simbólica do Presidente, e esta mistura do melhor de dois mundos: democracia plena, a eleição directa, os direitos e poderes do Presidente, de um lado; e do outro lado, a postura majestosa, o peso do protocolo, a atitude simbólica nos actos públicos.

Nas ruas, teremos um Rei e uma Rainha, como o povo deseja e gosta de ver, de preferência com as melhores jóias, como a rainha de Inglaterra defendia - dentro das quatro paredes do Palácio de Belém, teremos um político profissional e uma primeira-dama que já confessou que está, dentro de casa, de "olho mais atento para as coisas que estão a precisar de obras". Um animado convívio entre dois regimes.

E viveram felizes para sempre...

Pedro Rolo Duarte in DN

Conselho de Segurança deve ponderar aplicação de sanções ao Irão


A Administração norte-americana entende que o Conselho de Segurança da ONU deve ponderar a aprovação de sanções contra o Irão, depois de este país ter anunciado que começou a enriquecer urânio.

"Penso que o Conselho de Segurança deve ter em consideração o passo dado pelo Irão", afirmou a secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, em declarações aos jornalistas.

A chefe da diplomacia norte-americana sublinhou que o Irão desrespeitou as exigências internacionais ao começar a enriquecer urânio, pelo que a instância máxima da ONU deve ponderar, na sua próxima reunião, "medidas fortes para garantir a manutenção da credibilidade da comunidade internacional nesta questão".

Contudo, a responsável propôs a realização de uma reunião de emergência para analisar a questão, afirmando que só deve ser tomada uma decisão depois do director da agência internacional de Energia Atómica (AIEA) apresentar o relatório sobre a situação no terreno, o que deverá acontecer no próximo dia 28.

Rice não revelou quais as medidas que Washington quer aplicar ao Irão, mas o porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack, garantiu que não está em causa qualquer acção militar, mas um reforço da pressão diplomática sobre Teerão.

Mais explícito, o porta-voz da Casa Branca afirmou que a aprovação de sanções contra o regime iraniano é "certamente uma opção em cima da mesa" para contrariar a "ameaça" nuclear de Teerão."As actividades de enriquecimento de urânio são uma afronta ao Conselho de Segurança e à AIEA", sublinhou o porta-voz.

A aplicação de sanções económicas ou diplomáticas contra o Irão é uma possibilidade desde que o programa nuclear do país foi denunciado ao Conselho de Segurança.

Contudo, a Rússia e a China (membros permanentes, com direito de veto) opuseram-se, até agora, a este tipo de iniciativa, por considerarem que irá levar o Irão a suspender a colaboração com a AIEA, renunciando à fiscalização internacional.

In PÚBLICO

segunda-feira, abril 10, 2006

CIAO SILVIO...


Vamos ter saudades dele. Porquê: porque nos fazia rir e - principalmente - porque nos fazia recordar que há quem tenha menos sorte na escolha dos seus governantes. Mas a vida é assim. Para grande tristeza nossa - e maior desilusão do próprio -, Silvio Berlusconi foi afastado do poder em Itália.

Acaba-se a opera bufa em Roma, substituída por resquícios de um passado de igual má memória: Prodi e a sua coligação mais não são que os herdeiros do regime varrido pelas "mãos limpas" que permitiram a ascensão de Silvio. Esta escolha difícil entre um presente de vergonha e um passado de desonra está reflectida nas escolhas dos eleitores italianos - divididos quase a meio, dando a vitória a Prodi pelo que a esta hora parece ser a mais curta das margens.

Mas uma vitória, mesmo assim. De um político que já foi chefe de governo e não deixou saudades, sobre um outro que deveria ser idolatrado, pelo simples facto de ter sido o único primeiro-ministro italiano do pós-guerra que conseguiu cumprir toda uma legislatura de cinco anos.

E apesar disso… ciao, Silvio, que a Itália não quer estabilidade à custa de ser o bobo da corte europeia.

RESULTADOS ELEITORAIS ITALIA




Breve presentação e comparação do resultados eleitorais em Itália.
Atenção que os resultados são diferentes na Câmara e no Senado...

GAFFE NÚMERO UM


Ontem, no Hospital D. Estefânia, na sua primeira deslocação desde que tomou posse, o Presidente da República visitou enfermarias, entrou quase a medo nos quartos e cumprimentou os meninos que estavam internados com a fórmula típica dos políticos:

"Então, estás bom?"

Disse uma vez, disse duas, até que Maria Cavaco Silva, que ia um passo atrás e não tem a formatação dos políticos, disse o que outros estariam a pensar:

"Se estivesse muito bom não estava aqui."

E riu-se, mais para o menino do que por causa da gaffe do marido. Cavaco não voltou a perguntar se estavam bons, passou a perguntar-lhes se estavam melhores.

Governo francês cede


Chirac anuncia a substituição do CPE; Villepin confirma decisão


O Presidente francês "decidiu substituir" o Contrato de Primeiro Emprego que tanta contestação social levantou e que mergulhou o país numa crise nas últimas dez semanas, anunciou esta manhã a Presidência francesa. Um pouco mais tarde, o primeiro-ministro veio confirmar a decisão.


A suspensão da lei do primeiro emprego foi decidida esta manhã numa reunião entre Jacques Chirac e Dominique de Villepin."Sob proposta do primeiro-ministro e depois de ouvir os lideres dos grupos parlamentares e os responsáveis da maioria, o Presidente da República decicidiu substituir o artigo 8 da lei sobre a igualdade de oportunidades por um dispositivo que favoreça a inserção profissional aos jovens em dificuldades", anunciou o Eliseu em comunicado.

O artigo 8 da lei sobre a igualdade de oportunidades é a génese do CPE, o diploma que deu origem a uma enorme contestação social e política dos sindicatos, oposição de esquerda e movimentos de estudantes universitários e de liceu.Pouco depois do comunicado da Presidência francesa, Dominique de Villepin, confirmou a decisão.

"As condições necessárias de confiança e serenidade não estão reunidas, nem do lado dos jovens nem do lado das empresas, que permitam a aplicação do contrato de primeiro emprego", anunciou o primeiro-ministro, numa breve declaração à saída do Eliseu.

quarta-feira, abril 05, 2006

UM DIA MARCANTE


Foi marcada ontem uma conferência de imprensa para o anúncio, por parte do Vice-presidente do CEPRI, do mais importante acordo diplomático apresentado em 2006, que visa um desconto substancial no preço da litrada de cerveja e vinho tinto (da região de Mértola) para os alunos das licenciaturas de Ciência Politica e Relações Internacionais.

A cerimónia teve lugar no afamado Snack-Bar "O Fontelos", um local que se tornou a meca de altos representantes do CEPRI, onde ambos selaram este importante Tratado, e brindaram com uma bica cheia e dois copos de Favaítos. Depois do longo beberete, houve ainda tempo para o descerrar de uma placa comemorativa do acontecimento, os habituais discursos e os visados ainda pousaram para as câmaras.

O nosso repórter esteve lá e registou o momento...

terça-feira, abril 04, 2006

Francesinhos e Revoluções

As últimas semanas, em França, têm sido profícuas em manifestações anti-CPE (Contracto Primeiro Emprego). As últimas semanas, também em França, têm demonstrado o quão inábil tem sido o governo francês na gestão destas contestações. O CPE, que na verdade surge para distinguir os bons dos maus jovens empregados, vai obrigar a que desde início se comece a “dar o litro” por aquele lugar que tanto se ambicionou. Agora está tudo nas mãos dos jovens. A sua manutenção num emprego depende da sua eficiência e bom desempenho. Os bons, faça-se justiça, estarão assim seguros.
Mas, outra questão se coloca. Na realidade para se ser um mau funcionário basta apenas que não se esteja satisfeito com o tipo de serviço. Deste modo, e tendo em conta a enorme mobilidade que a Europa nos permite, será que faz sentido que na primeira fase das nossas vidas tenhamos que nos vincular a algo que não gostamos, só porque o ordenado compensa? Estes primeiros dois anos serão expressão daquilo que os recém empregados estiverem disponíveis a lutar, isto se se adaptarem ao serviço.