terça-feira, outubro 17, 2006

"Máscaras"



Será que este homem é um militante laranja a torcer o nariz ao orçamento de estado proposto pelo Governo para 2007? Não mas podia ser e com razão, pois embora este orçamento possa conter a subida da despesa pública em 2007, falta a este governo a coragem para garantir a descida da despesa em anos futuros, que se faz através da mudança estrutural da máquina do estado e até através de uma redefinição das funções do mesmo.

A verdade é que o homem que se encontra na foto, envergando uma máscara de gás, é um sul-coreano que participa num exercício de defesa cívil por receio a futuros ataques militares por parte da Coreia do Norte. Será que o teste nuclear norte-coreano representa o fim da ordem internacional unipolar?

O prof. João Marques de Almeida responde:

"...A transformação da Coreia do Norte numa potência nuclear obriga-nos a chegar a algumas conclusões importantes sobre o estado das relações internacionais. (...) O resultado será novas potências nucleares: o próximo será o Irão e outros se seguirão. A isto chama-se anarquia internacional. A competição estratégica entre as grandes potências reforça ainda mais a tendência de anarquia mundial. No caso da Coreia do Norte, Pequim empenhou-se, mas em relação ao Irão nota-se, no mínimo, uma grande ambiguidade por parte de russos e chineses. Por interesses próprios, mas também devido a cálculos em relação à distribuição de poder mundial, a Rússia e a China não estão empenhadas em impedir Teerão de alcançar a capacidade nuclear. Julgam que o sucesso iraniano irá enfraquecer o poder dos Estados Unidos, e querem beneficiar dessa fraqueza. É um erro. Aliás só mesmo uma grande cegueira estratégica é que poderia levar a supor-se que a nuclearização de dois países vizinhos, Coreia do Norte no caso da China e o Irão no caso da Rússia, afecta mais a segurança de um país longínquo como os Estados Unidos. Por vezes, parece que travar o aparecimento de novas potências nucleares é um interesse exclusivo dos norte-americanos. Desconfio que mais cedo do que se imagina, haverá quem se arrependa desta visão. Com um poder militar incomparável, que garante a sua segurança territorial e nacional, os Estados Unidos têm capacidade para se defender de qualquer ameaça nuclear. O mesmo não se poderá dizer de muitos outros países. Além disso, a instabilidade política e estratégica que resultará da proliferação nuclear pós-Coreia do Norte e pós-Irão afectará, sobretudo, a Ásia e a Europa, e não o continente americano. Um dos possíveis resultados de tudo o que tem acontecido entre o 11 de Setembro e a nuclearização do Irão será a adopção de um ‘isolacionismo qualificado’ por Washington. Ver-se-á então a diferença entre um ‘unilateralismo nacionalista’ e um ‘intervencionismo unilateral’. A derrotada será a ordem mundial e a vencedora será, mais uma vez, a anarquia internacional."

in Diário Económico Online 16/10/06

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