domingo, janeiro 28, 2007

As Juventude Partidárias

Tenho-me perguntado, desde há alguns meses a esta parte, acerca do balanço que faço da filiação numa jota, a que num momento de euforia aderi. E, incrivelmente, pensava eu até há uns dias, não havia balanço a fazer. Nada se fizera durante cerca de cinco anos de filiação, a não ser pontuais arregimentações para andar atrás de candidatos presidenciais ultrapassados. (As únicas de que me não arrependo são as que andei a acompanhar Socrates no acesso ao governo.) Mas hoje, outra dúvida se me coloca! Como é que ainda pensei que era incrível nunca se ter feito nada? Incrível era ter acontecido alguma coisa vinda de gente que espera apenas o tal lugar na lista ao secretariado ou à direcção. Não é isto que eu esperava, confesso, das jotas aqui há uns anos. Hoje, sei que para além disto, para pouco mais servem. E conto uma pequena história: Certa noite (porque é sempre à noite que tudo acontece), estava eu numa sala gelada à volta de uma mesa com mais uma quantidade de camaradinhas a discutir o sexo dos anjos, quando eu proponho que seria interessante convidar individualidades ligadas ao partido para irem à secção falar de questões relacionadas com o país... Qual não é o meu espanto quando a resposta é não. Justificação: os meus interesses não eram o interesse da maioria que ali estava. E desde aí me ficou sempre uma dúvida. Como poderia aquele camarada saber isso se nem sequer houve uma votação? Porque se priviligiava, então, a conquista da Associação de Estudantes da EB 2,3 do raio que o parta em deterimento de uma discussão que tinha muito de positivo para aqueles...camaradinhas? Questões como estas têm-se apoderado da parte racional do meu cérebro e a verdade é que não encontro cabais respostas que justifiquem uma tão longa permanência numa jota. Chego à conclusão que se tivesse andado a entregar papeis aí plos semáfros teria, concerteza, convencido mais gente!
Mas fica sempre aquela ideia da causa. A causa que nos leva a juntar-nos. E há sempre uma causa que nos faz decidir, que nos leva a optar por A ou por B. Mas quando a causa se mostra inglória, porque foi defraudada por quem acreditavamos que também a defendia, apenas ficam dela, memórias. E uma delas é o cartão! Não sei que lhe faça?

quinta-feira, janeiro 25, 2007

A questão CML

Há já muito que se vem ouvindo falar das relações “perniciosas” entre a CML e a empresa Braga Parques. Diria eu que este tema se levantou a partir do momento em que o actual vereador do Bloco de Esquerda, Dr. Sá Fernandes, começou a arquitectar a hipótese de se candidatar à Câmara.
Há, efectivamente, relações entre a CML e a empresa Braga Parques. Como, aliás, presumo que haja com muitas outras empresas nacionais dos mais variados ramos de actividades. Mal seria se assim não fosse.
No entanto, a grande questão que se vem ultimamente colocando prende-se com a atitude que deverá ser tomada pelo executivo camarário no decorrer das investigações às casas e aos gabinetes dos vereadores executivos eleitos pelo PSD. Deverão os vereadores investigados demitir-se? Deverão renunciar aos mandatos? Deverão marcar-se eleições antecipadas?
O período pós-revolucionário, que o Dr. Sá Fernandes tanto deve recordar, passou vai já para 32 anos! Não podemos andar a falar de eleições antecipadas sem que haja primeiro um veredicto judicial que considere culpado todo o executivo camarário. Caso contrário estamos apenas a ceder aos ímpetos justiceiros de uma certa população que se considera portadora plena dos princípios e da moral.
Nem tampouco se deverão demitir os vereadores eleitos pelo PSD que foram, nos últimos dias investigados, até que haja uma decisão dos tribunais que esclareça convenientemente toda esta questão. Deverão sim, no meu entender suspender os seus mandatos de forma a colaborar com a justiça de forma isenta e sem qualquer apego aos deveres da governação.
Considero muito digna a posição tomada pelos restantes partidos da oposição (PS; PCP; e CDS-PP) que se disponibilizaram para em conjunto chegar a uma solução de compromisso que vise, acima de tudo, a não demissão deste executivo e, por conseguinte a convocação de eleições antecipadas.
É de lamentar a posição radical do vereador (justiçeiro) do Bloco de Esquerda. Radical pois não fala noutra solução que não passe pela convocação de eleições antecipadas. Lisboa precisa de Justiça e não de Justiçeiros.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Documento secreto revela que a França esteve a um passo de pertencer à Commonwealth em 1956.


When Britain and France nearly married.


Formerly secret documents unearthed from the National Archives have showed Britain and France considered a "union" in the 1950s.
On 10 September 1956 French Prime Minister Guy Mollet arrived in London for talks with his British counterpart, Anthony Eden.
These were troubled times for Mollet's France. Egypt's President Gamel Abdel Nasser had nationalised the Suez Canal and, as if that was not enough, he was also busy funding separatists in French Algeria, fuelling a bloody mutiny that was costing the country's colonial masters dear.
Monsieur Mollet was ready to fight back and he was determined to get Britain's help to do it.
Formerly secret documents held in Britain's National Archives in London, which have lain virtually unnoticed since being released two decades ago, reveal the extraordinary proposal Mollet was about to make.
The following is an extract from a British government cabinet paper of the day. It reads:
"When the French Prime Minister, Monsieur Mollet was recently in London he raised with the prime minister the possibility of a union between the United Kingdom and France."
Mollet was desperate to hit back at Nasser. He was also an Anglophile who admired Britain both for its help in two world wars and its blossoming welfare state.
There was another reason, too, that the French prime minister proposed this radical plan.
Tension was growing at this time along the border between Israel and Jordan. France was an ally of Israel and Britain of Jordan. If events got out of control there, French and British soldiers could soon be fighting each other.
With the Suez issue on the boil Mollet could not let such a disaster happen.

Secret document:
So, when Eden turned down his request for a union between France and Britain the French prime minister came up with another proposal.
This time, while Eden was on a visit to Paris, he requested that France be allowed to join the British Commonwealth.
A secret document from 28 September 1956 records the surprisingly enthusiastic way the British premier responded to the proposal when he discussed it with his Cabinet Secretary, Sir Norman Brook.
It says: "Sir Norman Brook asked to see me this morning and told me he had come up from the country consequent on a telephone conversation from the prime minister who is in Wiltshire.
"The PM told him on the telephone that he thought in the light of his talks with the French:

-"That we should give immediate consideration to France joining the Commonwealth

-"That Monsieur Mollet had not thought there need be difficulty over France accepting the headship of her Majesty

-"That the French would welcome a common citizenship arrangement on the Irish basis"

Seeing these words for the first time, Henri Soutou, professor of contemporary history at Paris's Sorbonne University almost fell off his chair.
Stammering repeatedly he said: "Really I am stuttering because this idea is so preposterous. The idea of joining the Commonwealth and accepting the headship of Her Majesty would not have gone down well. If this had been suggested more recently Mollet might have found himself in court."

By Mike Thomson
in BBCNews online 15/01/07

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Conferência/Debate sobre o Aborto

O Centro de Estudos Políticos e de Relações Internacionais da Universidade Lusíada de Lisboa tem a honra de convidar todos os interessados para o debate intitulado:

"O referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez em debate"

O evento terá lugar na Universidade Lusíada de Lisboa no próximo dia 11 Janeiro 2007 no auditório 2 [10H00 - 13H00].

Mais informações no site do evento: http://www.lis.ulusiada.pt/cartazes/cartaz_aborto.jpg

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Prof. Marques de Almeida sobre o Iraque.

Ainda o Iraque

Washington nunca ”quis” ”impor” nenhuma ”democracia” no Iraque. O que a Administração Bush quis, desde 2002, foi derrubar o regime de Saddam.
A execução de Saddam Hussein e a redefinição da estratégia norte americana trouxeram o Iraque, mais uma vez, para o centro dos nossos debates. No caso da primeira, as imagens colocam o governo iraquiano ao nível das milícias, o que é naturalmente muito grave. No segundo caso, aguarda-se o discurso do Presidente Bush, onde apresentará uma nova política para o Iraque. No entanto, independentemente do conteúdo, será muito difícil o Presidente norte americano sair da Casa Branca, em 2008, com um sucesso: a estabilização do Iraque antes do final do segundo mandato. Vale a pena, em particular, discutir o que é evidente para todos, incluindo as melhores cabeças. Os Estados Unidos queriam impor a democracia no Iraque e fracassaram. O que quer dizer o ”queriam”, o ”impor”, a ”democracia”? E quais serão as consequências do fracasso?
Antes de mais, Washington nunca ”quis” ”impor” nenhuma ”democracia” no Iraque. O que a Administração republicana sempre quis, desde 2002, foi derrubar o regime de Saddam, e o mais depressa possível. Quando percebeu que não o conseguia por meios pacíficos e com a ajuda de todos os membros do Conselho de Segurança, recorreu à guerra juntamente com o outro membro que aceitou essa estratégia, o Reino Unido. Foi aqui que surgiu o argumento da democracia. Agora é um erro tremendo julgar que a ”imposição da democracia” se transformou, subitamente, numa cruzada política inspirada nos argumentos dos neo-conservadores, à qual Bush se converteu. Nenhum Presidente dos Estados Unidos faz uma guerra sem dizer aos norte-americanos que o uso da força militar vai beneficiar a promoção dos valores democráticos. Nem sequer é necessário recuar muito na história. Vejam com atenção as declarações de Bill Clinton sempre que os Estados Unidos participaram em conflitos militares durante as suas duas presidências. Neste sentido, Bush foi inteiramente fiel à tradição americana e não se afastou um milímetro do seu antecessor. E se recuarmos um pouco mais no tempo, umas quantas décadas ou mesmo um ou dois séculos, descobrimos os mesmos argumentos na Europa, com a ”civilização” a substituir a ”democracia”. Na história do Ocidente, as guerras têm sido justificadas em nome da segurança ou dos valores, e nunca em nome dos interesses nacionais, por mais importantes que estes sejam. Washington continua a ser uma capital ocidental no sentido histórico do termo.
Depois, tendo em conta a radicalização dos debates sobre a guerra, a maioria dos que a defenderam evocaram o argumento da democracia para legitimar a sua posição. O que é mais do que natural, já que a política não é feita por anjos e santos (mais uma conquista ocidental). Além disso, qualquer reforma política no Iraque exigia o derrube de Saddam. Todavia, os mais sensatos sempre souberam que não seria possível simplesmente construir uma ”democracia ocidental” no Iraque. Mas entre esta e o regime de Saddam há muitas formas intermédias superiores à tirania que existia. Por exemplo, um regime que não se apoiasse na violência sistemática, moderado na sua política externa e que respeitasse o pluralismo étnico e religiosos do país. Foi este projecto (e não a ”democracia” em abstracto) que fracassou, até hoje, no Iraque. Mas a verdade é que Washington não se esforçou muito para ”impor” esse sistema político. A maior demonstração foi o facto de o número de tropas nunca ter ultrapassado os duzentos mil.
Ninguém na Administração de Bush quis alguma vez ”impor” algum regime político no Iraque. Pelo contrário, procuraram transferir o mais rapidamente possível o poder para os iraquianos e reduzir o número de tropas até ao mínimo, apenas para ajudar a manter alguma segurança e não serem acusados de abandonar o Iraque.
Os Estados Unidos nunca tentaram ”impor” a democracia por duas razões muito simples, uma sensata e a outra idealista. Por um lado, sabem muito bem que a democracia não se impõe. Pode derrubar-se uma ditadura, e isso fizeram, mas depois a construção de uma ”democracia” (no sentido mais lato do termo) compete às forças políticas locais. Mesmo no Japão e na Alemanha, após 1945, os maiores casos de ”promoção de democracia”, foi isso que aconteceu. Por exemplo, sem ”democracia-cristã” e sem ”social-democracia”, por mais tropas americanas que estivessem na Alemanha, não teria havido democracia alemã. Por outro lado, as principais figuras da Administração americana, a começar pelo Presidente Bush, acreditaram que após o derrube de Saddam, os iraquianos na generalidade desejariam construir um regime democrático. Foi aqui que se enganaram e o engano foi profundo. Mas enganaram-se devido a boas razões: acham que, no essencial, não há diferenças entre europeus e árabes ou entre cristãos e muçulmanos.
O fracasso do Iraque vai levar, depressa, à seguinte conclusão. Em grande parte do mundo não-ocidental não vale a pena colocar a vida dos nossos soldados em risco em nome de reformas e do progresso político. Por outras palavras, muitos irão aceitar que a opção é entre um ”Saddam qualquer” ou a guerra civil. Podemos tirar duas conclusões. Em primeiro lugar, o princípio da universalidade da democracia será questionado, o que irá afectar os pressupostos das políticas externas ocidentais, desde as intervenções militares, até às políticas de aliança e passando pelas políticas de cooperação e ajuda ao desenvolvimento. Em segundo lugar, o facto dos argumentos mais conservadores de todos terem tido razão (após Saddam será a guerra civil) deixa uma forte indicação de como será o futuro. Os ”neo-conservadores” perderam, mas quem ganhou foram os ”velhos conservadores” (e alguns são mesmo muito velhos). O que me espanta foi a rapidez com que muitos ”progressistas” se juntaram a estes.
João Marques de Almeida, Doutorado em Relações Internacionais