sábado, outubro 13, 2007

Fundamentalismo

Mais uma vez a Igreja Católica demonstrou a sua aversão à mudança. Continua parada no tempo, agarrada a valores há muito ultrapassados e completamente desfasados da realidade. O cardeal Tarcisio Bertone, alto responsável do Vaticano, apelou em Fátima à "rebelião" dos cristãos contra os "senhores destes tempos". O que a Igreja Católica tem de perceber de uma vez por todas é que já não dita mais as regras. E tal como todos os que percebem que não tem capacidade para levar a sua avante através da discussão saudável, usando argumentos coerentes, entra pelo caminho da "rebelião". Estará a Igreja a entrar pelo caminho dos que tanto criticou e critica?

Com o Papa Bento XVI parece que esta tomada de posição é ainda mais acentuada. Forte crítico da religião islâmica, da falta de moral das sociedades modernas, leva-me a crer que, tendo em conta o tipo de declarações que faz, estamos perante nem mais nem menos que um fundamentalista. Também os há no chamado "mundo civilizado". E assim como os fundamentalistas muçulmanos são incapazes de ver para além dos seus dogmas, Bento XVI e os seus seguidores são incapazes de ter a humildade de ver as consequências que as suas declarações e convicções provocam. Incitamento à segregação ao condenar a homosexualidade, o desprezo pela dignidade das pessoas ao condenar a eutanásia e a irresponsabilidade ao ignorar os perigos para a saúde pública ao condenar o uso do preservativo e da criminalização do aborto!

Qualquer dia teremos Bento XVI a regressar à Idade Média - se é que alguma vez saiu de lá- e, à semelhança da Al-Qaeda, apelar à cruzada contra os infiéis.
"Deus Vult"

PS: Peço desculpa por ter estado ausente, mas tive problemas em fazer o login.

2 comentários:

Anónimo disse...

Vamos por partes: A resistência à mudança é directamente proporcional ao grau da mudança e à velocidade com que a mudança se apresenta na sociedade. Quanto à resistência que a igreja católica tem à mudança, certo que exemplos existem de alguma dificuldade em acompanhar os processos sociológicos da mudança.

Goste-se ou não, tem a Igreja concorrido para o debate de algumas das mudanças recentes que assolam a nossa sociedade:
-Direitos humanos (condição humana);
- Aborto;
- Eutanásia;
- Genética;
- Homosexualidade (casamento, adopção);
- SIDA;
- Contracepção.
E volto a referir, concorde-se ou não com cada uma das posições da igreja no que se refere a estes assuntos.

Fundamentalismo? Talvez um pouco neste caso, até porque o exemplo expresso volta a colocar frases fora de contexto, a tal revolta (ficticia) vem fazer referência a um fenómeno sociológico que esta geração de políticos ainda não soube distrinçar: a diferença entre laicidade e laicismo. A frase em si que aqui aparece descontextualizada, tem razão de ser quando observada num contexto de laicismo, de ditadura das minorias, porque se deve existir liberdade religiosa, também deve ser observado que uma religião de matriz cultural do ocidente deva continuar a ter lugar de destaque na vida da maioria que a professa.
E isto não significa a existência de uma religião de estado nem o direito de ingerência da igreja católica nos assuntos de estado. Laicismo é diferente de laicidade.

A negação dessa matriz cultural tem, afinal sido uma das razões do radicalismo e do nosso terrorismo endógeno.

Por último, por vezes esquecemo-nos que a moral e a ética deverá estar sempre acima da lei (também é natural que nos esqueçamos pois os primeiros a confundirem isso são as elítes que nos governam).

Agora, comparar Al-Qaeda com a Igreja Católica, só pode ser um exercício intelectual irresponsável e de mau gosto.

Miguel Sousa

Manuel Porfírio disse...

Antes de mais obrigado pelo seu comentário e desculpe-me por não lhe ter respondido mais cedo.

Como disse, vamos por partes. Não sei até que ponto a Igreja participa no debate para a mudança da nossa sociedade. Acredito que se dependesse dela, as questões como a homossexualidade ou aborto não tinham discussão possível, tal é a convicção que os católicos têm sobre estes temas e tantos outros. Aliás, penso que é imagem de marca da Igreja não querer discutir ideias que vão contra os seus dogmas. Corrija-me se tiver errado, que penso que não estou. Daí eu ter falado em fundamentalismo.

Sobre a rebelião, o meu ponto era o de poder haver a possibilidade da Igreja caminhar para um caminho que é o de uma oposição não saudável, digamos assim, às instituições políticas. Mera especulação.

"Por último, por vezes esquecemo-nos que a moral e a ética deverá estar sempre acima da lei"

Concordo consigo. Mas eu pergunto: que moral e ética? Uma das conclusões que eu tirei por altura do debate sobre a despenalização do aborto, foi que a moral e ética dos católicos não corresponde à minha. Aos olhos de um católico eu sou uma pessoa com uma total falta de moral, o que não corresponde de todo à verdade.

Por último, concordo consigo acerca da falta de bom senso acerca da comparação com a Al-Qaeda.