sábado, setembro 29, 2007

O Encoberto


Luís Filipe Menezes ganhou liderança do PSD pelas directas que trouxeram uma maturidade à democracia partidária portuguesa que é salutar. Ainda que a ala “cavaquista” e “barrosista” estivessem com Luís Marques Mendes, este perdeu por razoável vantagem do seu adversário que foi o escolhido pelos militantes, como deve ser. Já no CDS/PP as directas permitiram à democracia o seu funcionamento de rotatividade retirando poder às elites partidárias.

Porém, “a crise da Direita” não está em Luís Marques Mendes ou Luís Filipe Menezes, está na falta de adaptação à realidade.

Se Marques Mendes tivesse ganho estaria a termo porque da forma como o governo de Sócrates se tem comportado será tarefa difícil ganhar as próximas eleições. Perdendo com Sócrates sairia de cena e entraria então uma nova personagem que faria uma nova oposição e alteraria as linhas condutoras do actual PSD. Deu-se o inesperado, Marques Mendes perde e um futuro que ainda não se sabe bem qual fica no nevoeiro… No seu discurso de triunfo Menezes disse ser um partido Social-democrata o que quer face ao governo economicista do Primeiro-ministro Sócrates. Ora é isso mesmo que os portugueses e as portuguesas não querem.

Um PSD mais virado para a Social-democracia será o que o PS deveria ser e não é. Um PS que não faz política Socialista ocupa terreno ao PSD. O que faz o PSD? Vai ocupar terreno ao PS no seio da comunidade Socialista descontente. Disse Menezes que são bem vindos à família Social-Democrata. Mas o que quereria dizer com isto? É agora o PSD um refugio como o PS foi para os exilados do PCP? Não me parece boa ideia nem de um partido que aspira à liderança da nação, porque:

1. Se Menezes perde as eleições em 2009 vão haver novas directas,

2. O PS é hoje um partido “Catch all” nem todo o seu militante é socialista,

3. Reafirmar o legado da Social-democracia é ir contra os fundadores do partido nomeadamente o seu líder mais carismático Sá Carneiro,

4. Só reavivando o PPD se pode fazer oposição ao PS,

5. Através do Compromisso Portugal do qual faz parte uma elite do PSD, “a cavaquista” é possível fazer cair o PS.

Brincar ao faz de conta já não convence em Portugal. São necessárias pessoas com técnica das quais se mostre valor intrínseco para governar o país. A imagem jovial de um Santana Lopes ou de Sócrates a correr nas principais capitais mundiais já não tem a mesma aderência de outrora. Não será tarefa fácil a Menezes ganhar o partido nos seus blocos de poder, até porque só em 2009 se verá se este foi ou não um candidato de transição. A democracia não está afectada e se está deve-o aos “tiques autoritários” do PS e do socratismo. Hoje, mais do que nunca cabe ao PSD renovar-se e aproveitar a iniciativa de Francisco Balsemão para a renovação dos estatutos. Se a única forma de ganhar a Sócrates nas bancadas é através da assimilação do espaço que o PS deixou em branco, então isto é uma batalha perdida.

Já se teorizou sobre a fusão entre o CDS/PP e o PPD/PSD, quem o sugeriu foi Miguel Júdice. Ainda que seja uma proposta inovadora e um reafirmar da “direita portuguesa” muitas respostas ficam encobertas. Não se sabe bem como se iria conciliar essa fusão politica e como organizar os programas políticos. Pode parecer um pouco inconsequente mas tem a sua razão de ser porque:

1. Iria reforçar os dois partidos afectados pelo socratismo socialista,

2. Dar uma nova imagem aos partidos, imagem de modernidade, o contrario de politicas ultrapassadas e de um saudosismo característico da “direita portuguesa”, ainda que a esquerda sonhe com os velhos tempos do pacto de Varsóvia,

3. Uma direita unida poria a esquerda em sentido e com receio de uma nova força política.

Se Menezes quer, e muito bem, ganhar terreno ao PS tem de o fazer pelo CDS/PP e não pelos descontentes do PS, esses devem ter a porta entreaberta e não escancarada. Em suma o que se está a passar em Portugal é salutar porque é próprio das democracias que atingem a maioridade. Nega-lo é querer ver uma praga onde ela não existe. Mas por ora o nevoeiro é denso, deixemos que amaine para ver se vem mouro ou um D. Sebastião. Melhor será nenhum dos dois, para que se aprenda em Portugal a dominar a incerteza pelos próprios meios sem deixar a terceiros, como no passado se fez e se faz com a centralização socrática.

1 comentário:

Anónimo disse...

Luis Filipe Menezes vai ser um precioso aliado de Sócrates e Cavaco Silva no desejo destes de enterrar o referendo ao clone da Constituição Europeia, isto é, do Tratado Reformador.

O suicídio político de Marques Mendes deve ter sido o querer fazer um referendo!