sábado, agosto 19, 2006

Os falafels imorais

O tradicional prato árabe de bolinhas de grão-de-bico conhecido como falafel é um dos últimos alvos dos radicais islâmicos do Iraque. Os vendedores de falafels são visitados por grupos extremistas, que os avisam de que é melhor fecharem as suas bancas se não querem ser mortos.

Os corajosos que se recusam a fechar as suas bancas são pouco tempo depois mortos por atentar contra a moral pública. Interrogados sobre qual era o problema de vender este prato, os radicais respondem que este não existiam no tempo de Maomé e que por isso não deveria ser vendido. O mesmo argumento é usado para ameaçar os vendedores de blocos de gelo para conservar os alimentos (numa cidade onde as temperaturas atingem os 50ºC).

Resta saber porque os vendedores de hambúrgueres ou kebabs podem continuar a exercer os seus negócios e porque os próprios radicais usam carros para se deslocarem e kalachnikovs para executarem os infiéis, quando no tempo de Maomé também não havia nada disso. É um puritanismo selectivo?

terça-feira, agosto 15, 2006

University Channel Podcasts

O verão é normalmente uma boa altura para pôr em dia as leituras atrasadas e outras tarefas que normalmente não há tempo para fazer durante o ano académico, por isso venho propor um novo meio de estar-mos actualizados sobre o mundo das Relações Internacionais e que funciona como um excelente complemento à nossa formação académica: chama-se University Channel Podcast e é, como próprio site informa: “uma colectânea de debates, conferências e outros eventos sobre assuntos de política internacional e nacional de vários países realizados em instituições académicas de todo o mundo”. Cada semana este site oferece gravações em formato mp3 (os denominados podcasts) de conferências e outros eventos realizados um pouco por todo o mundo, os quais são uma valiosa ferramenta para estudantes como nós, uma vez que nos põe em contacto com os mais actuais debates da actualidade.

Para os interessados há mais informação neste site. A partir dele podem fazer a subscrição gratuita para programas como o iTunes, que farão automaticamente o download dos ficheiros de áudio.

terça-feira, julho 18, 2006

Resolução do Conselho de Segurança 1559 (A situação no Médio Oriente).


A Resolução 1559 tomada em 2004 pelo Conselho de Segurança da ONU, é orientadora das questões de soberania no Líbano, o que implica a retirada das forças Sírias do território libanês e o desarmamento de mílicias. Assim e como Condoleeza Rice tem vindo a afirmar é possível exercer considerável pressão sobre a Síria e o Hezbollah com base na Resolução 1559.


United Nations S/RES/1559 (2004)
Security Council Distr.: General
2 September 2004


Resolution 1559 (2004)
Adopted by the Security Council at its 5028th meeting, on
2 September 2004

The Security Council,
Recalling all its previous resolutions on Lebanon, in particular resolutions 425
(1978) and 426 (1978) of 19 March 1978, resolution 520 (1982) of 17 September
1982, and resolution 1553 (2004) of 29 July 2004 as well as the statements of its
President on the situation in Lebanon, in particular the statement of 18 June 2000
(S/PRST/2000/21),

Reiterating its strong support for the territorial integrity, sovereignty and
political independence of Lebanon within its internationally recognized borders,
Noting the determination of Lebanon to ensure the withdrawal of all non-
Lebanese forces from Lebanon,
Gravely concerned at the continued presence of armed militias in Lebanon,
which prevent the Lebanese Government from exercising its full sovereignty over
all Lebanese territory,
Reaffirming the importance of the extension of the control of the Government
of Lebanon over all Lebanese territory,
Mindful of the upcoming Lebanese presidential elections and underlining the
importance of free and fair elections according to Lebanese constitutional rules
devised without foreign interference or influence,

1. Reaffirms its call for the strict respect of the sovereignty, territorial
integrity, unity, and political independence of Lebanon under the sole and exclusive
authority of the Government of Lebanon throughout Lebanon;

2. Calls upon all remaining foreign forces to withdraw from Lebanon;

3. Calls for the disbanding and disarmament of all Lebanese and non-
Lebanese militias;

4. Supports the extension of the control of the Government of Lebanon over
all Lebanese territory;

5. Declares its support for a free and fair electoral process in Lebanon’s
upcoming presidential election conducted according to Lebanese constitutional rules
devised without foreign interference or influence;

6. Calls upon all parties concerned to cooperate fully and urgently with the
Security Council for the full implementation of this and all relevant resolutions
concerning the restoration of the territorial integrity, full sovereignty, and political
independence of Lebanon;

7. Requests that the Secretary-General report to the Security Council within
thirty days on the implementation by the parties of this resolution and decides to
remain actively seized of the matter.



UN Security Council Resolutions 2004.

terça-feira, julho 11, 2006

Processo de Bolonha na Lusíada



Na próxima quinta-feira, dia 13 de Julho, pelas 19:00 horas vai ter lugar uma sessão de esclarecimento sobre a aplicação do Processo de Bolonha para os cursos de Relações Internacionais e Ciência Política.
O local deverá ser algum dos auditórios. Mais informações disponíveis na Universidade.

segunda-feira, julho 10, 2006

domingo, julho 09, 2006

A politização do Mundial de Futebol.


Neste Mundial foi observável a relação causa e efeito entre as prestações das selecções e o aumento do patriotismo e contentamento das populações nos respectivos países. Olhando para os semi-finalistas, a selecção portuguesa fez esqueçer o défice em Portugal; a selecção francesa fez esqueçer a crise social, económica e política da França; a selecção italiana vai provavelmente reforçar a ideia (verdadeira ou falsa logo se verá) que os tempos vindouros do novo governo italiano são auspiciosos, e por fim a prestação da equipa germânica veio gerar um novo nacionalismo alemão que temia em se materializar devido aos fantasmas do passado recente. Este nacionalismo liberal germânico em harmonia com os ideais democráticos fará certamente esqueçer o nacionalismo totalitário, agressivo e expancionista que se observou durante o regime Nazi, e será certamente mais uma pedra na construção e consolidação desta Alemanha do século XXI.


GERMANY'S NEW-FOUND PATRIOTISM.
Patriot Games
by Andrew Curry


Germany's World Cup aspirations ended this week in a heartbreaking loss to the Italians. While winning the championship certainly would have pleased the country's soccer fans, something more historically significant emerged from the games, something of which all Germans should be proud: a new sense of German patriotism.

In Germany, national feeling has always run either too hot or too cold, but never just right. But since the World Cup started on June 9, there's been a sudden outbreak of perfectly innocent flag-waving here. Everywhere--from streaks of face paint and Mohawk wigs to cars and apartment buildings festooned with black, red, and gold--the German tricolor has been flying. Along the city's "Fan Mile," which stretches from the Brandenburg Gate to the middle of Berlin's usually quiet Tiergarten, a sea of patriotic fans swelled with every German victory. At first glance, this was a little unsettling. Under ordinary circumstances, flying the German flag anywhere but on top of federal buildings is looked down upon. Patriotic displays aren't quite taboo in Germany, but they are certainly politically incorrect. Perhaps for Germany, then, the best thing to come out of the 2006 World Cup may be something Americans take for granted: an understanding that it is possible to be proud of one's country without being a nationalist.

After World War II, Germans tried burying the past in work and denial. Indeed, in the cold-war rush to get Germany up and running, the de-Nazification process was left unfinished, and even in the 1960s many university professors and government officials had Nazi pasts to hide. German baby boomers put an end to this hushed secrecy. "The libertarian, anti-authoritarian, democratic 'coming out' we had in the late '60s changed political culture down to the roots," says Klaus Fuecks, co-chair of the Heinrich Boll Institute, a Green Party think tank in Berlin. Like students all over the world, Germany's post-war generation spent the '60s fighting the establishment and dragging their country's past out into the light. The often violent protests of 1968, for example, included demands that professors with Nazi ties be removed from the university system. Confronting the past forced Germans to alter the way they viewed their country, and made it difficult to be proud of being German.

In the years afterwards, the sins of the past became a constant theme in the German political and educational systems. "In the '70s, we all grew up learning Germans did terrible things," says Michael Minkenberg, a political scientist at Viadrina University in Frankfurt-Oder. It was this guilt that turned Germany into one of Europe's most welcoming countries when it came to political asylum seekers and immigrants. By the 1980s, Germany was the European Union's strongest supporter. For young Germans, it was much more appealing to be European than German. And by the beginning of the century, alumni of '68 like Joschka Fischer--whose Green Party was another legacy of the student movement--ended up in charge of a very different Germany. Field trips to concentration camps were a feature in German schools; flags and the national anthem, on the other hand, were still anathema.

And so the recent flag fever has prompted a typically German round of hand wringing. One think tank suggested changing the national anthem, or at least prefacing it with a warning. Schools debated whether to forbid kids from coming to class wearing national colors. In an attempt to preserve the Berlin police force's neutrality, police officers here were ordered not to wear or fly the national colors. Some conservative politicians called this absurd. "We should all be patriots, Berlin cops included," one right-wing parliamentarian complained. There has been a much more serious backlash as well--not surprisingly, since Germany's radical right is currently experiencing a mini-boom. In the economically struggling provinces of Eastern Germany, hate crimes and neo-Nazi membership are on the rise; right-wing nationalist politicians have succeeded in getting elected to state parliaments in the past few years.

A few weeks before the Cup started, former government spokesman Karsten-Uwe Heye--now running an anti-racism organization called Show Your Face--warned black soccer fans to avoid the East German countryside, calling the provinces around host cities Berlin and Leipzig "no-go zones." The warning was widely discussed, and politicians pointed out that it amounted to a win for neo-Nazis looking to keep foreigners out of Germany. It was a reminder that while racism isn't a uniquely German problem, Germans are under unique scrutiny. "There is a problem, and we should talk about it," says Fuecks. "But that's not Germany, and you must not be afraid to come to Germany. The majority of people don't agree with these radicals, and there's a growing civil consciousness and awareness of the problem."

Which is why it is tempting to view the public displays patriotism as a hopeful sign. Neither nationalism nor self-loathing, the feeling here is one of pride without hate. Reports of serious fights between German and foreign fans can be counted on one hand, and the police patrolling the capital's Fan Mile have been mostly bored. Despite over six million visitors since the beginning of the Cup, only one serious breach of security occurred when a driver broke through crowd-control barriers last Sunday and injured almost two dozen fans.

Of course Germany has celebrated during past World Cups, but never with the patriotic outpouring--and the sense of community--of the past few weeks. In fact, Berlin probably hasn't partied this hard since the fall of the wall in 1989. That party was more a celebration of freedom than of patriotism. But Germans today can be proud of being German without forgetting or denying the past. Though Germany's flurry of flags is unlikely to outlast the World Cup, hopefully the country's new-found patriotism will.

Andrew Curry
New Republican Online

domingo, julho 02, 2006

Eça e o Islão!

Há cerca de 100 anos, Eça de Queirós escrevia num pequeno livro, acerca da presença dos Ingleses no Egipto: “Como o nosso Evangelho, a palavra de Maomé vai-se tornando objecto de poesia, de comentário, de controvérsia. Há Renans no Islão; e o verbo divino, uma vez analisado, deixa de inspirar a fé que leva à morte.”
Um erro de análise, ou a fé de que a religião perderia com o tempo a sua influência a nível global, levaram Eça a considerar a palavra de Maomé como “poesia”!

Socrates actualiza o Governo

Há já muito que se esperava a saída de Freitas dos Negócios Estrangeiros! Desde o início que o nome do professor de direito era de algum modo incomodo. Incomodo para o PS dada a existência de outros nomes que melhor desempenhariam o papel nas circunstâncias actuais, como o revelou agora a escolha do primeiro ministro, e incomodo para uma certa direita que deixara fugir por completo debaixo da sua alçada o homem que fundara o CDS. Tal como mudou e se actualizou o CDS, que Freitas vira nascer, também mudaram as formas de negociação internacional com que o ex-ministro aprendera a trabalhar. Diogo Freitas do Amaral era um ministro do passado num governo de futuro. Era realmente um peso pesado, com muita influência e reconhecimento, mas um homem de outra época governativa.
As escolhas agora feitas pelo engº Sócrates são de todo mais adequadas às circunstâncias. Pode concerteza esperar-se uma maior aproximação quer à Europa, quer às relações transatlânticas. O tempo mostrará o sucesso da opção!

quinta-feira, junho 29, 2006

EUA: Supremo invalida tribunais militares de Guantánamo

'O Supremo Tribunal dos EUA concluiu hoje que o Presidente George W. Bush ultrapassou os poderes que lhe são conferidos pela Constituição quando instituiu comissões militares para julgar os "combatentes inimigos" detidos em Guantánamo. A decisão, aguardada com ansiedade pela Casa Branca, representa um duro revés na política de combate ao terrorismo da actual Administração.
O acórdão, aprovado por cinco juízes do Supremo, com a oposição de três, considera que estes tribunais são ilegais à luz da legislação norte-americana e da Convenção de Genebra para o tratamento de prisioneiros de guerra. '

in publico.pt


O resto da notícia pode ser lida aqui

terça-feira, junho 27, 2006

CEPRI - Centro de Estudos Pol�ticos e Rela�es Internacionais

Realiza-se na próxima 6ª feira, dia 30 de Junho, pelas 11 horas a primeira Assembleia Geral em que estarão presentes os novos órgãos sociais do CEPRI. A AG realizar-se-á no espaço do núcleo.
CEPRI

Planos para possível retirada do Iraque

Será este anúncio o "início do fim" da presença americana no Iraque ou só uma manobra eleitoral para começar a reconquistar votos republicanos para as próximas eleições parciais do Congresso norte-americano e melhorar a imagem do Presidente George W. Bush?


Forças da coligação dão primeiros passos na retirada do Iraque

'As forças da coligação no Iraque preparam planos de retirada e começam a tranferência de responsabilidades para as forças iraquianas.

A Casa Branca confirmou a elaboração de um plano para a saída de uma parte importante das tropas norte-americanas até ao fim de 2007. No entanto, fez saber que se tratá apenas de uma opção entre várias e que depende "das condições no terreno".

Entretanto, soldados britânicos e australianos preparam-se para transferir para as autoridades iraquianas o controlo da província de Muthana, no sul do país.

O coronel britânico Giles Vosper-Brown diz que "se tomarem em consideração os acontecimentos das últimas semanas, com a formação do governo, a morte de Zarqawi, a transição da primeira província para controlo iraquiano, é algo que dá esperança".

Nima Abd, lugar-tenente do exército iraquiano acredita que a tranferência vai correr bem porque "é uma província pequena, como pouca população. Todos se conhecem, não há estrangeiros".

Mais de três anos após a invasão norte-americana, Muthana é a única região do país considerada suficientemente estável para a "passagem do testemunho" aos iraquianos. No Domingo, o Japão começou já a retirar os efectivos destacados em Samawah, perto de Bagdade.'


in euronews.net, artigo original disponível aqui

Bolonha na Lusíada

No site da nossa Universidade finalmente apareceu alguma informação referente ao famoso Processo de Bolonha que irá ser introduzido para o ano académico 2006/2007, mas pela informação actualmente disponível parece que todo o processo se resume a reduzir a duração das licenciaturas, mestrados e doutoramentos. O processo incluirá mais novidades? Esperemos que sim!
Mais informação no site: http://www.lis.ulusiada.pt/secretaria/bolonha/catalogo.htm

segunda-feira, junho 26, 2006

O mundial de futebol em Washington e Lisboa.


Encontrei um artigo no Público que reflecte duas formas diferentes de viver o mundial, não só da parte dos adeptos, mas também a nível institucional, comunicação social, etc.
Rita Siza confronta a realidade quotidiana de Washington com a lisboeta durante esta época da febre do mundial. Febre no nosso país, mas será que nos EUA a forma como se vive o mundial, não será uma espécie de terapia?

A crónica de Rita Siza:
Washington.

"It's all about the game"

Quando os jogos de futebol acabam, em Washington DC, as pessoas pagam a conta e vão às suas vidas. Os bares, sempre cheios, esvaziam-se ao mesmo ritmo dos estádios da Alemanha de onde chega a transmissão televisiva.

A multidão que momentos antes agitara bandeiras e cachecóis, berrara e cantara, sofrera e rejubilara, aplaudira, esbracejara e se abraçara, distribui civilizadamente os últimos sorrisos e cumprimentos e com calma volta a enfrentar o mundo - ao chegar à rua, o efeito do sol e do calor que agarra a roupa ao corpo só vem confirmar a dimensão material e física dessa transição que por segundos só se processa a nível intelectual.

Aqui não há entrevistas de fim de jogo, nem análises, nem comentários repetidos até à exaustão. As televisões não dedicam mais do que dois minutos de noticiário ao mundial, e são sempre peças sóbrias. Os únicos anúncios que vi foram aqueles fantásticos da Adidas, com os dois miúdos a jogar à bola com o Platini e o Beckenbauer, e mesmo esses só passam no intervalo dos jogos. O trânsito não para, nem os automobilistas apitam; as ruas não se enchem nem se esvaziam.

Nenhuma praça tem écrãs gigantes ou bancadas. As lojas prosseguem o seu comércio normal, não há ofertas, bónus, ou quinquilharias desnecessárias coladas aos pacotes de mercearia. As bandeiras penduradas nos edíficios são as mesmas de sempre-as das centenas de embaixadas e dezenas e dezenas de departamentos do governo federal.

Mas não me venham com o argumento que isso é porque na América ninguém liga nada ao futebol. Nesta cidade, onde vem parar gente de todo o mundo (literalmente), ninguém não liga a nada, ninguém não tem uma equipa, ninguém não quer ver os jogos. Quaisquer que eles sejam, os nossos e os dos outros, os bons e os maus, vê-se tudo com fervor e até ao fim. Aqui, o Mundial é uma festa, ninguém lhe é indiferente. Simplesmente ninguém faz do Mundial o único assunto do dia, ninguém pensa que não há mais vida para além do futebol. E talvez por isso, porque não temos todos que levar com o Mundial em todo o lugar a toda a hora, aproveitamos.

Porque há muito dia antes e sobretudo muito mais dia depois do jogo, aproveitamos. Naqueles 90 minutos, ou 120 minutos, ou em todos os outros minutos que vierem a mais, "it's all about the game". Aproveitamos os passes, os dribles, as defesas, os pontapés, os lançamentos, os cantos, as faltas, as fintas, os golos. Aproveitamos o futebol, sem peder tempo nem energia com mais nada. Sem fanatismo, sem exageros.

Aproveitamos a festa, o encontro, este encantador convívio com outras pessoas que também por algum tempo suspenderam a sua vida por causa deste jogo tão emocionante e imprevisível.

Somos sempre por alguém: por quem ganha, por quem joga melhor, por quem está na mó de baixo; por quem dá espectáculo, por quem surpreende, por quem fala a nossa língua, por quem defronta os que não gostamos.

Eu, neste instantinho, já fui pela República Checa, pela Austrália, pela Costa do Marfim, pela Suécia, por Trinidad e Tobago, pela Argentina, pela França, pelo Gana, pelo Brasil... Somos sempre pelos golos.

O que descubro com grande surpresa, nesta terra habituada a touch downs e home runs, é um renovado prazer de gritar golo. E assim vou gritando golo, nessa explosão maior do futebol, de braços no ar, cada vez mais cheia de alegria. Porque sei que ainda há muitos jogos. Quando acabarem fecho a conta e vou à minha vida.

Rita Siza, jornal Público (26/06/06).

quarta-feira, junho 21, 2006

Estrasburgo ou Bruxelas?

Como muitos dos nossos colegas devem saber, o Parlamento Europeu tem duas sedes, uma em Bruxelas e outra em Estrasburgo. A primeira é usada para os plenários "preparatórios" e a segunda para um plenário mensal final. Este sistema custa aos contribuintes europeus 200 milhões de euros por ano e implica, todos os meses, o transporte de toda a documentação necessária em dez camiões TIR e a transferência de todo o aparelho administrativo, que por sua vez tem sede em Luxemburgo, para ajudar à confusão.
A dualidade deve-se, mais que tudo, ao desejo francês de continuar a acolher pelo menos um dos principais órgãos da UE.
Se etiverem interessados em saber mais sobre o assunto podem consultar este site, http://www.oneseat.eu/ dedicado ao estabelecimento de Bruxelas como única sede do PE.

terça-feira, junho 20, 2006

Hipocrisias humanitárias

Para cumprir a tradição, aqui disponibilizo o artigo de João Marques de Almeida, sempre relevante para os cursos de RI e CP.


Hipocrisias humanitárias


Entre os membros permanentes do Conselho de Segurança, os países ocidentais são aqueles onde se verifica uma maior sensibilidade humanitária.

Numa entrevista dada ao ”Público”, na semana passada, António Guterres queixou-se da pouca atenção que as opiniões públicas europeias dão às crises humanitárias africanas. Observou que com o Iraque todos se preocupam mas, por exemplo, com o Congo e com Darfour são poucos os que dão alguma importância. O alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados explica esta duplicidade com a percepção de que o Iraque afecta a segurança internacional, enquanto os conflitos africanos não ameaçam a Europa. Em parte, esta justificação está correcta, mas convém acrescentar uma explicação adicional. Ao contrário do que muitos julgam, a atenção dada às crises humanitárias não resulta da extensão do desastre humanitário mas de escolhas políticas. E estas não são nada inocentes. O melhor exemplo é o conflito na Palestina. Pela leitura da maioria dos jornais e pela maioria das reacções na Europa, teríamos que concluir que a gravidade da crise humanitária na Palestina não tem equivalente em todo o mundo. Ora, não é verdade, seja qual for o ângulo de apreciação. É fácil encontrar dezenas de conflitos e de crises onde há mais mortes, mais refugiados e mais violações dos direitos humanos. O que se passa é que muita da atenção prestada à Palestina não resulta de uma genuína preocupação com desastres humanitários em geral mas da vontade política de atacar Israel. O mesmo se passa com o Iraque. É óbvio que a situação no país está muito complicada, com o recurso frequente à violência contra civis. No entanto, a dimensão da crise humanitária no Iraque não se compara com o que se passa no Sudão, no Congo e na Somália. Constitui, porém, uma oportunidade magnífica para criticar e atacar os Estados Unidos. As vítimas da violência que não tenha origem em Washington podem queixar-se de uma dupla injustiça: sofrem graves violações dos seus direitos elementares, e o seu sofrimento é geralmente ignorado.

Esta duplicidade constitui, antes de mais, uma traição ao ”ideal humanitário” das democracias ocidentais. As ligações históricas, a proximidade territorial e os interesses políticos influenciam obviamente as nossas preocupações humanitárias. Mas há limites ao particularismo. Perante certas tragédias humanitárias, a indignação dos cidadãos dessas democracias deveria ser universal. Embora compreenda, julgo que a diferença de tratamento no nosso país em relação a Timor e a Darfour revela uma certa falta de maturidade cosmopolita. Acho muito bem que se dê toda a atenção ao caso timorense, mas seria natural que o que se passa no Sudão, apesar de tudo, causasse uma maior indignação entre os portugueses. Em termos de violação de direitos humanos e de desastre humanitário, não há qualquer comparação.

Além da atenção dispensada pelas opiniões públicas ocidentais, as respostas a crises humanitárias dependem da disponibilidade política dos governos. Como notou na mesma entrevista António Guterres, as grandes potências são indispensáveis para o sucesso das acções humanitárias. Qualquer pessoa sabe que, entre os membros permanentes do Conselho de Segurança, os países ocidentais são aqueles onde se verifica uma maior sensibilidade humanitária. Os países europeus, os Estados Unidos, e a própria Aliança Atlântica, estão sempre na liderança das respostas internacionais a desastres humanitários, como aqueles que ocorreram nos últimos tempos no Paquistão, na Índia, na Indonésia, e até no Irão. Há, em particular, um problema muito sério com o modo como a China e a Rússia lidam com crises humanitárias. Todos se referem ao crescimento, à expansão e ao aumento de poder da China e da Rússia, mas poucos notam a absoluta indiferença destes dois países perante problemas humanitários internacionais. E esta indiferença está igualmente presente nas opiniões públicas como nos governos dos dois países.


Nos últimos tempos, muitos observadores têm notado que uma das vantagens comparativas da China em África é o seu pragmatismo em relação a questões de democracia e de direitos humanos. Ao contrário do Departamento de Estado norte-americano, Pequim não demonstra qualquer tipo de preocupação com assuntos humanitários. O zelo norte-americano, de resto partilhado em muitos aspectos pela União Europeia, pode fazer perder alguns negócios, mas dará sem dúvida algum contributo para o progresso da justiça internacional. Corre-se hoje um risco nas capitais ocidentais. O voluntarismo em relação à promoção da democracia, a que muitos associam alguns dos erros mais graves cometidos no Iraque, pode ser substituído por um excessivo cinismo. Não só é necessário encontrar um equilíbrio entre a realpolitik e o idealismo, como fazer a distinção entre uma estratégia utópica de promoção da democracia com a preocupação em responder a crises humanitárias. Ninguém tenha dúvidas. Qualquer tipo de progresso humanitário neste mundo depende essencialmente dos países ocidentais. As chamadas novas grandes potências, tão elogiadas por muitos, estão apenas preocupadas com o seu poder e com a sua riqueza. A operação humanitária é um conceito que não faz parte das suas estratégias de expansão.

João Marques de Almeida, Director do Instituto de Defesa Nacional
in Diario Economico Online.