quinta-feira, maio 04, 2006

Partidos

"Ou os partidos se abrem e conquistam mais militantes ou deixam as estruturas sempre controladas pelos mesmos grupos: são sempre os mesmos a votar e os mesmos a ser eleitos. Mas isso atrofia o partido."

Estas palavras são de Carlos Carreiras, o líder da secção do PSD de Cascais, e traduz a atrofia generalizada dos partidos políticos. Carlos Carreiras orgulha-se das reuniões quinzenais da sua secção, das acções de formação autárquicas, mas a regra nacional não é essa. A Assembleia Distrital de Lisboa do CDS, alegadamente um dos órgãos mais dinâmicos deste partido, não se reúne desde Novembro do ano passado.

Regra geral, os partidos portugueses trabalham pouco. A excepção será o PCP, que tem no "centralismo democrático" uma teia permanente de circulação e controlo de informação. No PS, a Comissão Política não é convocada há três meses. Regra geral, as estruturas partidárias raramente discutem ideias, apenas lugares, não estudam, não questionam a política do Governo ou do partido, não preparam propostas para resolver problemas, não se abrem aos cidadãos sem partido, ou às empresas, ou às universidades. Um dos instrumentos fundamentais para a acção política passa pelo estudo. A arte de bem governar passa pela preparação das políticas, pela formação, pelo contacto internacional permanente. Para os partidos mobilizarem a sociedade têm de manter laços estreitos com os cidadãos militantes e não militantes. A sociedade em rede que se vai estendendo não tem nos partidos políticos entrepostos interessantes de informação.

Lembramo-nos dos partidos como máquinas de campanha eleitoral - e é pressuposto que o sejam -, mas não mais do que isso. Recordamos arregimentações de votos, lutas pouco nobres por lugares, financiamentos obscuros e éticas duvidosas. Fala-se dos partidos pelas piores razões. Não espanta que a militância partidária vá diminuindo, que o voto tenda para a abstenção e que o discurso antipartidos ou antiparlamentar ganhe adeptos e alimente a demagogia populista. A política depende cada vez menos das bases dos partidos, está refém de interesses e clientelas mais ou menos dissimulados.

Quando a política não depende dos partidos, que é pressuposto organizarem a representação democrática, significa que vai perdendo legitimidade e transparência. E, no entanto, nem por isso a sociedade portuguesa parece preocupar-se. Além da abstenção, como dizia há poucos dias a politóloga Marina Costa Lobo no DN, não há respostas positivas. Nem clivagens assumidas nos partidos, nem novos partidos, nem novos foros de intervenção política. Portugal parece satisfeito com a alternância entre o PS e o PSD. Afinal tão iguais, apesar da tal "ginástica discursiva" do ministro Santos Silva. É por isso que as eleições se perdem mais do que se ganham. É por isso que importa mais a eficácia dos líderes do que as propostas dos partidos. Da democracia dos partidos regredimos para o plebiscito dos líderes.

António José Teixeira in DN

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